Leiam atentamente esse texto (compilado por mim) de Paulo Costa Lima, que é compositor e professor da Escola de Música da UFBA:
"Antigamente os artistas eram artistas, os outros não. Ego de artista era ego de artista. Os outros tinham noção e compostura, havia todo um resguardo de gabinetes, consultórios e distâncias regulamentares com relação a médicos, advogados ou engenheiros. Para que imitar os artistas e boêmios? Podia pegar mal. Egos excêntricos sim, moldados pelos palcos, pela constante exposição à fantasia alheia, mas tudo, tudo, em nome da arte. A sublimação era escudo e altar.
O que acontece hoje é uma artistificação forçada. Muito menos em nome da arte do que em nome de mecanismos oferecidos pelo "sistema", a partir de egos espetaculosos que dão as cartas e movem montanhas. Ao invés de socialismo e distribuição de renda e oportunidades, o que aparece no horizonte do capitalismo é esse hiper-capitalismo narcísico das celebridades, dando origem a uma nova ecologia de egos. E mais do que isso, dando origem a repetições em escala, a vulgarizações em escala, colocando em risco a própria noção de autenticidade. Todos preferem ser modelo. O que é legítimo? Eu.
Os egos humanos estão sendo, cada vez mais, moldados pelo olhar de quem os consome, seja no Big Brother ou na Caras. E de quem é a doença - de quem representa, de quem assiste ou de quem pauta e filma? E quem disse que é doença? É Zeitgeist - espírito da época, ou melhor, da estação, com modelito, passarela virtual e tudo.
De volta à própria arte: sobreviverá aos novos egos, e à crescente fusão com a publicidade? Espoliados de sua marca distintiva, de sua "razão de espetacularidade", os artistas de hoje ou se adaptam ao regime superficial em prol da visibilidade, ou transformam essa superficialidade em coisa densa (sem perda de rebolado; como?). Não sendo assim, precisariam secretar substâncias capazes de torná-los independentes de sua necessidade estrutural de testemunhas, priorizando um, e apenas um objeto erótico: a gaveta."
Disse tudo!!
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