Enfurnado numa prisão de laboratório, construída no subsolo de uma das universidades mais prestigiosas dos Estados Unidos, o decano da cadeira de Psicologia de Stanford, professor Philip Zimbardo, observa alunos colocarem sacos nas cabeças de prisioneiros, submetê-los a humilhações sexuais, acorrentá-los e lançá-los num abismo emocional. Em poucos dias, a curiosidade científica de Zimbardo se transformou em espanto. Depois em alarme. Por fim, em horror. O que fora minuciosamente concebido como uma experiência para aprofundar o conhecimento da dinâmica que rege a psicologia prisional teve de ser abortado às pressas. O experimento construído para durar duas semanas não pôde prosseguir além do sexto dia — as cobaias humanas tinham atropelado a teoria e instituído o reino do terror, do medo, da tortura real.
Os voluntários podiam escolher entre participar do teste na condição de agentes penitenciários ou prisioneiros. Como boa parte da juventude, à época, se opunha à guerra contra o Vietnam, todos optaram pelo papel de presos. A unanimidade obri¬gou Zimbardo a sortear quais seriam os doze jovens a assumirem o papel de guardas. Esses foram divididos em três turnos de oito horas de trabalho, ao passo que o grupo de presos ficaria encarcerado o tempo todo, até o final da experiência.
Além do uniforme, os guardas receberam óculos escuros espelhados, algemas, cassetete e uma orientação genérica: evitar fugas a qualquer custo e manter a lei e a ordem, sem recorrer à violência. “A prisão é de vocês”, eles ouviram. Os presos, por sua vez, foram conduzidos de olhos vendados até a pequena prisão de três celas, sem janelas, e iluminação indireta. O regulamento, de dezessete itens, era severo. Aos indisciplinados estava reservada uma tranca solitária — na verdade, um armário da faculdade, adaptado para a ocasião, sem qualquer luz, e no qual o preso só poderia ficar de pé, de cócoras ou agachado.
DORRIT HARAZIM
Leia o texto completo aqui
Nenhum comentário:
Postar um comentário