segunda-feira, abril 05, 2010

A cavalgada final



Escrito por DORRIT HARAZIM, da Revista Piauí:

Foram quase duas horas de labuta árdua no Pátio das Ferrarias do Arsenal Militar de Ferrol, o pequeno porto naval da Galícia, no extremo noroeste da Espanha. Às quatro da tarde de 18 de março passado, doze recrutas iniciaram os trabalhos para içar a mais célebre estátua equestre da cidade, pousá-la numa jaula de aço especialmente construída no estaleiro naval e depositá-la num armazém militar de acesso reservado.


Com isto, as autoridades municipais cumpriam a Lei da Memória Histórica aprovada pelo governo socialista em dezembro de 2007, pela qual toda efígie, monumento, estátua ou símbolo apologético da ditadura de Francisco Franco devem ser retirados das vistas públicas. Excetuando-se uma estátua do caudilho ainda exposta no enclave de Melilla, no norte da África, o monumento equestre de El Ferrol era o último ainda visível na Espanha europeia.

Não foi fácil imobilizar dentro da jaula o monumento de bronze e estanho de 6 metros de altura, que pesava mais de 8 toneladas. A colocação de cabos de aço nas patas do cavalo, a sustentação da efígie por meio de um arnês acoplado a correntes, a remoção do mastodonte içado numa grua e pousado numa jamanta de transporte - foi um trabalho hercúleo. E discreto.

Presentes, apenas os oficiais da Marinha que supervisionaram o trabalho e meia dúzia de jornalistas. A cavalgada final do caudilho de metal montado em seu corcel começou às 17h30, com a jamanta saindo de marcha a ré do pátio militar. O trajeto de menos de 2 quilômetros até a Escola Naval Antonio de Escaño, no bairro de Carança, levou mais de uma hora. Ali, cavalo e cavaleiro foram apeados da jamanta e depositados num galpão do Serviço de Materiais da Marinha. Cobertos por uma lona cinza-chumbo, estão destinados ao esquecimento.

"Isso não passa de ocultação estética da própria ditadura, cujos nomes continuam a povoar, em filhos, sobrinhos e netos, os principais cargos de dirigentes dos três poderes na Espanha", denunciou a Esquerda Unida, que exigia a fundição - idealmente em praça pública - da obra. Para os conspiromaníacos, é altamente simbólico que Franco, mesmo que só em bronze, continua montado em seu cavalo "à espera de tempos melhores". Já para o prefeito socialista de Ferrol, cidade natal do caudilho, a explicação para o acobertamento sob a lona é mais banal: "Foi uma solução barata", resumiu o alcaide.

Leia tudo aqui
 

Nenhum comentário: