terça-feira, julho 13, 2010

Fazendo escola



Peguei no Josias de Souza:

Por mais que se modernize, a Justiça brasileira continua infestada de “bocas de foro”. Gente que gosta de se expressar em latim.


Luiz Carlos da Costa, 53 anos, juiz da Vara de Sucessão e Famílias de Cuiabá (MT), inovou.

Em vez de desperdiçar o latim, o magistrado emite sentenças na língua dos mortais. Seus textos não vestem fraque, mas mangas de camisa.

O repórter Rodrigo Vargas conta que o juiz Luiz Carlos trocou o latinório pelas gírias, letras de músicas, poemas e trechos da Bíblia.

Numa sentença em que condenou um plano de saúde a bancar um tratamento que recusara a um cliente, o juiz serviu-se de Kelly Key.

Anotou que, diante da recusa da seguradora, a própria Carta Magna entoa a canção Baba, Baby: “Isso é pra você aprender a nunca mais me esnobar”.

Noutra decisão, o juiz negou a um sobrinho a pensão alimentícia que cobrava dos tios. No texto, preparou o espírito do parente esperto: a “notícia não será muito boa”.

Mais adiante, escreveu: "Sobrinho não pode pedir alimento ao tio [...]. Só se pode pedir verba alimentícia para os manos e manas: tanto os tiozinhos quanto as tiazinhas estão de fora [...]”.

Num processo em que uma senhora pedia o reconhecimento de união estável de 18 anos com o companheiro morto, o juiz deu-lhe ganho de causa.

Entre outras razões, alegou que a demandante era "pobre de marré, marré". Decisão rápida. Que Luiz Carlos explicou à sua maneira:

"O juiz pode decidir assim, de cara, de plano? Pode sim. Sempre digo que no recipiente das leis não cabe todo o conteúdo da vida".

Luiz Carlos não é um juiz novato. Dedica-se à magistratura há 24 anos. Como qualquer julgador, ele está sujeito a erros, porque “errare humanum est”.

Porém, os erros e os acertos de Luiz Carlos são transmitidos num linguajar que permite à clientela saber se foi salva ou arruinada sem ter de decifrar uma língua que já não é ensinada na escola.

Esse juiz deveria fazer escola!

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