quarta-feira, julho 22, 2009

A quem interessa o golpe em Honduras?

Honduras: um golpe pelo controle do continente

Por Marcelo Salles, Revista Caros Amigos


Os bastidores

Os interesses estadunidenses começam a ficar mais visíveis quando olhamos para a balança comercial de Honduras: os EUA são o destino de 70% das exportações (café, bananas, camarões, lagostas, carne, zinco e madeira), ao passo que 55% das importações vêm do mesmo país, com destaque para máquinas e equipamentos para transporte, matérias primas para indústria, produtos químicos e combustíveis. O déficit hondurenho gira em torno de US$ 1 bilhão.

A CIA destaca em sua página na Internet que “investimentos em fábricas de maquilagem e setores de exportação não-tradicionais vem começando a diversificar a economia”. Talvez o projeto ianque para o país fosse transformá-lo, gradualmente, em base de trabalho escravo e semi-escravo, assim como fazem no Haiti e na República Dominicana, onde os trabalhadores recebem 1 ou 2 dólares diários para produzir calças, agasalhos e tênis que depois serão vendidos a preços duzentas vezes maiores nos países desenvolvidos.


Outro dado importante é sua localização geográfica. Honduras está no centro da América Central, entre Nicarágua, El Salvador e Guatemala. O domínio de seu território é, portanto, fundamental para manter todo o continente sob controle. Na década de 1980 isso ficou muito claro quando os EUA transformaram Honduras numa base militar de onde atacavam o governo sandinista na Nicarágua – isso com o dinheiro sujo da venda de armas para o Irã – e assim impediam a disseminação do ideário marxista pela região. E hoje em dia, quando os EUA perdem influência na América do Sul, é fundamental reter o controle sobre o restante da América Latina.

O golpe de 29 de junho acontece justo no momento em que Zelaya se aproximava da Alternativa Bolivariana para as Américas. Seguindo o exemplo dos governos sul-americanos que mudaram suas Constituições, o presidente deposto queria incluir nas eleições gerais de 29 de novembro uma consulta para aprovar a convocação de uma Assembléia Constituinte. Como o Congresso e o Judiciário haviam negado essa possibilidade, Zelaya decidiu seguir adiante com a consulta, ainda que seu valor fosse apenas simbólico. Como os militares se recusaram a distribuir as urnas, o presidente demitiu o chefe do Estado Maior Conjunto, Romero Orlando Vasquez Velasquez, que não acatou a ordem e teve apoio dos demais comandantes castrenses, assim como do Congresso e do Judiciário.

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