Por Juliana Sada
Em seu novo documentário, que estreia hoje, Oliver Stone veio à América do Sul para explorar os processos de mudanças e contestação pelos quais passa o continente. “Ao Sul da Fronteira” aponta o presidente da Venezuela Hugo Chávez como o pioneiro, deste movimento que levou presidentes de esquerda governo de diversos países. O documentário, que tem como co-roteirista o escritor paquistânes Tariq Ali, apresenta uma retrospectiva da história de Chavéz para então fazer um passeio pelo continente e seus expoentes. Stone entrevista Evo Morales, o casal Kirchner, Rafael Correa, Raúl Castro, Fernando Lugo e Lula. Ao mesmo tempo em que faz uma crítica à mídia pela cobertura feita sobre estes governantes.
Com todo este material reunido e tantas possibilidades, o filme deixa a desejar. A apresentação feita da Venezuela é mais do mesmo, a trajetória do Chávez e a tentativa de golpe são assuntos já explorados em outras obras e razoavelmente conhecidos. As entrevistas com os presidentes exploram pouca informação nova ou relevante, Stone apenas dá espaço para que os políticos repitam seu discurso. Quanto ao nosso presidente, o documentário faz uma ressalva: “as mudanças foram mais políticas que estruturais”.
Ainda que o público alvo fosse o que desconhece os processos, o documentário pecaria pela falta de contextualização. A Venezuela é ricamente explorada mas os outros interessantes processos de mobilização popular do continente não são abordados suficientemente. Outro problema é apontar Chávez como o pioneiro deste panorama. Apesar de ter sido o primeiro a chegar à presidência – exceto por Castro, obviamente – não foi ele que desencadeou este processo que tem um motivador mais amplo e comum aos países, o neoliberalismo. A conjuntura latino americana é muito similar sendo que o final da década de 90 e início dos anos 2000 é marcado por diversas manifestações populares que levaram estes presidentes ao poder, sendo todos resultado de uma mesma conjuntura.
Um trunfo do documentário é a crítica feita à mídia estadunidense, mostrando como esta repercute o discurso oficial sem nenhuma contestação. São apresentados desde casos bizarros, como a apresentadora que diz que Chávez é viciado em drogas por mascar “cacau” todas manhãs, até simbólicos como a retratação do jornal “New York Times” em seu editorial por ter apoiado o golpe contra o líder venezuelano. Quando Correa é questionado se a sua imagem na mídia estadunidense o preocupa, ele é direto: “eu me preocuparia se falassem bem de mim”.
A filmografia de Stone é abundante em política, já fez documentários sobre Fidel Castro, Yasser Arafat e questão palestina. Mesmo suas obras de ficção abordam o tema, entre seus filmes estão títulos sobre Bush Jr., Vietnã, El Salvador, Nixon e Kennedy. Mesmo assim, abordar a complexa realidade sul americana não é tarefa fácil, nem para os estudiosos. Stone tem o mérito de se embrenhar neste campo e registrar um momento histórico que seguramente terá importantes desdobramentos. “Ao Sul da Fronteira” vale ainda por ter um nome de peso na direção, o que já garante um alcance enorme para o documentário e sobretudo para os processos políticos por ele abordados
Veja o trailer do filme:
Fonte: Escrevinhador
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