Por VANESSA BARBARA, da Revista Piauí
Em Dinajpur, Bangladesh, o sujeito se agacha atrás de um arbusto e começa a fazer suas necessidades. É interrompido por um agitado grupo de crianças com apitos e bandeirolas vermelhas. Enquanto o homem sai correndo segurando as calças, eles fincam uma bandeira no monte de excremento: “Seu cocô está marcado”, gritam, num documentário transmitido pela rede BBC sobre as condições de saneamento na região.
Para a ONU, 2008 é o Ano Internacional do Saneamento. Alguns projetos não-governamentais, como o Saneamento Total Liderado Pela Comunidade, eliminaram a defecação a céu aberto em centenas de vilarejos de Terceiro Mundo. Seu líder, o indiano Kamal Kar, contou com a mobilização dos grupos comunitários para a construção de latrinas. As crianças lideraram passeatas e inventaram slogans contra a livre defecação. Seus pais ergueram banheiros públicos.
Em São Paulo, praticamente não há sanitários públicos para a população em estado de emergência. Os banheiros do centro foram fechados devido à prostituição, ao vandalismo e ao tráfico de drogas. No caso do toalete localizado no vale do Anhangabaú, a prefeitura chegou a fazer uma licitação para privatizar as instalações, mas ninguém se interessou. O lugar fica trancado e só a guarda metropolitana o utiliza. No metrô, por causa das mesmas alegações (vandalismo, tráfico), a operação dos toaletes foi terceirizada; hoje a maioria é paga. Na rua, o paulistano fica vulnerável ao xixi na calça e à dor de barriga.
Por aqui, impera a ditadura das chaves nas padarias e do “banheiro exclusivo para clientes”. No centro, onde a revolução dos bexigas-fracas chegou antes, os bares vivem cheios de gente que só entra para usar o banheiro. Nas áreas mais nobres, é preciso pedir alguma coisa para comer e retirar a chave no balcão.
Pensando no cidadão apertado e na ausência de matinho na cidade, piauí, ciosa que é das grandes questões humanitárias, prestou um serviço social elaborando o mapa dos principais banheiros femininos gratuitos na região da avenida Paulista (os masculinos ficam para uma edição por vir, ampliada e com capa dura). Tal qual um guia Michelin, os onze estabelecimentos sanitários foram classificados segundo higiene, odor, funcionalidade, conforto e materiais de apoio (papel higiênico e sabão), em notas de um a cinco. Outros requisitos também foram levados em conta, como o acesso irrestrito e a pressão da descarga.
As grandes revelações desse ranking foram os banheiros dos shoppings e do McDonald’s, tradicionalmente acessíveis à plebe com dificuldades renais. O campeão absoluto foi o do Shopping Paulista, que, asseado e suntuoso, ganhou nota máxima do júri. O reservado tem hall de entrada com quatro majestosas poltronas, espelho de corpo inteiro, mesa de mármore para anotações, vaso de flores e lustre de pingentes. O banheiro é limpo, possui vastas quantidades de papel higiênico, pendurador de bolsas, sabonete líquido em sistema de espuma (cada acionamento libera 0,4 ml, permitindo uma economia três vezes maior em comparação ao sistema convencional), máquina de papel para limpar as mãos com sensor automático e descarga de ótima pressão.
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