Mauricio Stycer escreveu:
O “New York Times” desta segunda-feira publica a notícia que um repórter e um editor do jornal tiveram informações quentes sobre o escândalo de Watergate dois meses antes de Bob Woodward e Carl Bernstein darem início, no concorrente “Washington Post”, à série de reportagens que iria resultar na renúncia do presidente Richard Nixon. A ser verdade o que é relatado, trata-se da maior mancada jornalística da história.
Robert Smith, ex-repórter do “Times”, resolveu falar depois de saber que o ex-editor Robert H. Phelps incluiu a história em seu livro de memórias, recém-publicado. Segundo Smith, em 1972, dois meses antes da invasão do prédio Watergate, ele almoçou com o então diretor do FBI, L. Patrick Gray, que revelou detalhes explosivos do caso, envolvendo o procurador-geral John Mitchell e dando dicas da ligação da Casa Branca com o escândalo - relacionado a levantamento irregular de fundos para a campanha eleitoral de Nixon e o posterior encobrimento ilegal do caso.
Smith conta que voltou voando para a sucursal do “Times” em Washington e contou tudo que ouviu para seu chefe, Phelps, que tomou notas e gravou a conversa. A partir daí, a história começa a ficar estranha.
No dia seguinte, Smith deixou o “Times” e seguiu para a Universidade Yale, para cursar Direito. E dias depois, Phelps partiu para uma viagem de descanso de um mês no Alaska. E o que foi feito com as dicas dadas pelo diretor do FBI? E as anotações? E a gravação? São perguntas que o jornal faz hoje. As respostas são nebulosas.
“Não tenho idéia”, responde Phelps, hoje com 89 anos. Ex-colegas que ele entrevistou afirmam não ter conhecimento da história. “Foi, provavelmente, culpa minha”, ele diz. Smith conta que, durante o almoço com o diretor do FBI, ouviu que o Partido Republicano cometeu “truques sujos” durante a campanha para a eleição de Nixon.
“Ele (Gray) me disse que o procurador-geral estava envolvido no esforço de esconder o caso”. O então repórter lembra-se de ter perguntado: “Chega até onde? No presidente?” Segundo Smith, Patrick Gray olhou para ele e não respondeu. “Sua resposta estava no seu olhar”.
Escreve o “New York Times” hoje: “Se os relatos dele (Phelps) e de Smith estão corretos, o ‘Times’ perdeu a chance de sair na frente na grande reportagem da sua geração”.
Outro significado da revelação é que não apenas Mark Felt, o número 2 do FBI, estava passando informações para jornalistas (em 2005, ele revelou ser o Garganta Profunda, que abasteceu Woodward durante o escândalo), mas também o número 1 da agência estava revelando segredos sobre o caso.
A reportagem de hoje do “New York Times” sobre esse caso surreal pode ser lida aqui.
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