segunda-feira, setembro 17, 2007

Filhos do nada

O Estado mais rico do país convive com um faroeste. O sangue corre nas periferias de São Paulo como água de bica. Não há mês em que a violência não produza uma chacina. Só em 2007, foram 21. Noves fora os crimes que não chegam ao conhecimento da polícia, foram à cova 85 cadáveres –41 na capital, 32 na grande São Paulo e 12 no interior do Estado.

Um detalhe distingue os defuntos: são todos muito pobres, meio encardidos e completamente rotos. São, por assim dizer, corpos invisíveis. Não freqüentam o horário nobre. Não moram na casa ao lado. São filhos do nada.

A eternização da miséria provoca no brasileiro bem-posto um fenômeno curioso: a cegueira seletiva. Os com-geladeira têm olhos para a elegância, mas não enxergam a inanição à sua volta. Vêem os defuntos da TAM, mas dão de ombros para os corpos que tombam nos matagais ermos e distantes.

Não se diga, por injusto, que o naco desenvolvido das grandes cidades brasileiras estão inertes diante da rotina de violência. Um setor registra sólida reação: a indústria de grades, de porteiros eletrônicos e de alarmes.



Josias de Souza

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