sexta-feira, janeiro 16, 2009

Saiba tudo sobre o caso Cesare Battisti


À Espera - Cesare Batista, o último preso político do Brasil, pela Revista Piauí


Um grupo de jovens armados tentou assaltar a pizzaria Transatlantico, em Milão, na noite de 22 de janeiro de 1979. Um dos clientes, o joalheiro Pierluigi Torregiani, se fazia acompanhar por guarda-costas. Eles reagiram e, na troca de tiros, morreram um bandido e um freguês. Menos de um mês depois, veio a vingança. De revólver em punho, meia dúzia de rapazes entrou na joalheria de Torregiani. O comerciante sacou a sua Smith & Wesson e fez fogo. Errou o alvo e atingiu o próprio filho adotivo, Alberto, de 13 anos. Torregiani levou um disparo no coração e morreu na hora. O filho sobreviveu. Mas, com uma bala na medula, ficou paraplégico. Alberto só anda de cadeira de rodas.


No mesmo dia, 16 de fevereiro, a 500 quilômetros de Milão, na cidadezinha de Santa Maria di Sala, um bando armado matou a tiros o açougueiro Lino Sabbadin, que pouco antes também havia reagido a um assalto e matado um ladrão. As duas mortes foram assumidas pela organização Proletários Armados para o Comunismo, os PAC. Além de julgá-los assassinos, o grupo acusou o açougueiro de integrar um partido fascista, o Movimento Social Italiano, e o joalheiro (por ter guarda-costas), de ser o xerife do bairro. Os PAC reivindicaram outras duas execuções naquela época: a do comandante de prisão Antonio Santoro, numa emboscada de rua, em Udine, e a do policial Andrea Campagna, na frente da casa da namorada, em Milão. Ambos foram condenados à morte porque teriam torturado militantes da organização.


Os Proletários Armados para o Comunismo eram uma organização pequena e regional, que foi fundada em 1976 e deixou de existir apenas três anos depois. Nunca tiveram a expressão das Brigadas Vermelhas, que seqüestraram e mataram Aldo Moro, o líder democrata-cristão. Enquanto as Brigadas tinham ideologia rígida e se estruturavam militarmente, os PAC eram um grupo fluido, sem hierarquia, que assaltava mais para garantir o sustento de seus militantes que para incentivar a expropriação de capitalistas. Em vinte anos, contados a partir de 1969, cerca de 600 grupos reivindicaram ações subversivas na Itália. Só em 1979, quando os PAC fizeram três vítimas fatais, mais de 200 grupos de extrema-esquerda praticaram atentados na Itália.


As execuções do açougueiro e do dono de joalheria foram sintomas do estertor e da degeneração do movimento contestatório dos anos 60 na Itália. Ao contrário da França, cuja revolta se concentrou num mês, o maio de 68, a italiana se estendeu por mais de quinze anos. A rebelião teve as características de um país que, depois da II Grande Guerra, levou mais tempo até que a Alemanha para modernizar a indústria. Quando as grandes empresas – Fiat, Olivetti, Pirelli – finalmente deslancharam, elas se concentraram no norte da península. Provocaram, com isso, uma intensa migração de trabalhadores do sul. Eram operários pobres, de origem rural e sem estudo, que foram discriminados nas novas cidades e empregos. E cujos filhos forçaram a entrada em universidades elitizadas, que não tinham meios, nem vontade, de assimilá-los. As grandes greves, com tomadas de fábricas e universidades, extravasaram os limites traçados (à direita) pela democracia-cristã e (à esquerda) pelo Partido Comunista Italiano, o PCI, a maior organização stalinista da Europa ocidental.


Assim surgiu – e se radicalizou – aquilo que era chamado, com alegria, de “o Movimento”, e os livros de história vieram a denominar, sinistramente, “anos de chumbo”. O Movimento combinava esquerdismo extraparlamentar, enfrentamentos com a polícia, feminismo, antipsiquiatria, cinema e teatro experimentais, ocupações de sem-teto, jornais alternativos. Já os anos de chumbo contabilizaram mais de 12 mil atentados, que mataram 380 pessoas, feriram perto de duas mil e levaram quinze mil à prisão, das quais quatro mil foram condenadas. De um lado, havia o Estado, os comunistas e a Igreja. Do outro, o Movimento. Entre eles, trafegavam a máfia, organizações terroristas européias e palestinas, células infiltradas pelos serviços secretos da União Soviética e seus satélites, falanges fascistas.


Cesare Battisti é criatura daqueles anos. Ele nasceu no vilarejo de Sermoneta, ao sul de Roma. Seu avô festejou a fundação do PCI. Aos domingos, seu pai, Antonio, passeava pela cidade com um eloqüente cravo vermelho na lapela, para deixar clara sua simpatia política. O irmão mais velho, Giorgio, militante comunista, vestia camisas soviéticas. Já a mãe, Maria, com a cabeça coberta por um véu preto, temia a Deus e aos curas. Resultado: na casa onde moravam o casal e os seis filhos (quatro homens e duas mulheres), havia um retrato de Stálin na sala de jantar, que o caçula Cesare, na infância, imaginava ser a efígie de um santo católico. Battisti aparenta mais que os seus 53 anos. Tem cabelos curtos e lisos, barba por fazer, o rosto encovado e pálido, lábios finos. Ele veste uma camiseta que, de tão desbotada, é impossível discernir a cor original.


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