quinta-feira, janeiro 29, 2009

Ainda sobre Battisti

Meu amigo Elino Flávio, gentilmente colaborou mais uma vez para este blog, me mandou um e-mail ainda sobre esse escabroso casa de Cesare Battisti. Afinal, quem foi mesmo esse cara heim?

Segunda-feira, Janeiro 19, 2009

ARMANDO SPATARO , 60 anos, procurador da República de Milão (Itália), coordenador do Departamento contra o Terrorismo, em artigo publicado hoje, na Folha:

Integrei o Ministério Público italiano, no âmbito do qual, ao lado de outros magistrados, conduzi as investigações que levaram àscondenações contra Cesare Battisti. Portanto, em relação à decisão doministro Tarso Genro, espero poder oferecer à opinião pública brasileira uma contribuição para a verdade, com a finalidade depreencher as lacunas de informação sobre as quais aquela decisão encontra-se fundamentada.Com efeito, é difícil para os italianos entender como a um assassino puro como ele pode ter sido reconhecido orefúgio. É oportuno partir dos fatos para desmontar os argumentos frequentemente utilizados por Battisti e seus "amigos".

1) Battisti não é um extremista perseguido na Itália por seus ideais políticos, e sim um criminoso comum que praticava roubos com o fim de lucro pessoal e que se politizou na prisão. Em seguida, filiou-se a uma organização terrorista que praticou lesões corporais e homicídios. Battisti foi preso em junho de 1979 com outros cúmplices em uma base terrorista de Milão, onde foram apreendidos metralhadoras, revólveres,fuzis e documentos falsos. Com certeza, portanto, não se tratava de dissidente político!

2) Battisti foi condenado à prisão perpétua por muitos graves crimes, entre os quais também quatro homicídios: em dois destes (homicídio domarechal Santoro, praticado em Udine em 6/6/78; homicídio do policial Campagna, praticado em Milão em 19/4/79), foi ele a atirarmaterialmente nas vítimas; em outro homicídio (o de L. Sabbadin, um açougueiro morto em Mestre, em 16/2/79), deu cobertura aos assassinos, e, no quarto (o homicídio de P. Torregiani, acontecido em Milão, em16/2/79), colaborou na sua organização. Gostaria de perguntar ao ministro brasileiro quais motivações políticas enxerga nos homicídiosde um joalheiro e de um açougueiro, "justiçados" por vingança (porterem reagido com as armas aos assaltos sofridos) ou nos homicídios de policiais que cumpriam seu dever.

3) Não é verdade que Battisti foi condenado somente com base nas acusações do delator premiado Pietro Mutti; tampouco é verdade queeste não fosse confiável. Afirmar isso significa ofender a seriedadeda Justiça italiana. As confissões de Pietro Mutti, com efeito, foramconfirmadas por inúmeros outros testemunhos e pelas sucessivas colaborações de outros ex-terroristas. A verdade, portanto, estáescrita nas sentenças, que pesam como pedras enormes e que seencontram à disposição de todos os que tenham a paciência de as ler.

4) Não é verdade que a Battisti foi negada a possibilidade de se defender nos processos em que estava ausente. Na verdade, foi Battistiquem se furtou à Justiça, evadindo-se em 1981 da carceragem em queestava preso. Não por acaso a Corte Europeia de Direitos Humanos deEstrasburgo (França) negou provimento ao recurso de Battisti contra aconcessão de sua extradição por parte da França, julgando-o, por essa razão, "manifestamente sem fundamento" e afirmando que, de qualquer forma, em todos os processos ele foi assistido por seus advogados deconfiança. Será que também a corte de Estrasburgo está per seguindo Battisti?

5) É falso que a Itália e seu Judiciário não foram capazes de garantira tutela dos direitos das pessoas acusadas de terrorismo durante os denominados "anos de chumbo". Trata-se de uma afirmação que nos fere.

Inúmeros foram os magistrados, os advogados, os homens das instituições, os policiais assassinados de maneira vil por pessoas como Battisti pelo simples fato de aplicarem a lei. A Itália, no contexto da luta contra o terrorismo, não conheceu tribunais de exceção ou militares nem desvios antidemocráticos. Tal fato foi ressaltado também por nosso presidente da República Sandro Pertini,que afirmou que a Itália podia louvar-se de ter vencido o terrorismonas salas dos tribunais, e não "nos estádios", aludindo aos métodos ilegais que nós não conhecemos e aos quais também hoje nos opomos.

Acredito que o refúgio não foi concebido pelos fundadores de nossas democracias para garantir a impunidade de pessoas como Battisti, um dos assassinos mais cruéis e frios que o terrorismo italiano conheceu e que nunca se dissociou do uso das armas.

Espero, com todo o respeito, portanto, que as autoridades brasileiras competentes tenham a possibilidade de rever suas próprias decisões. Não pelo fato de a justiça ser equivalente à vingança, mas pelo fato de ela representar o lugar da afirmação das regras do Estado deDireito: e quem as violar, ainda mais se matar o próximo, deve pagar.

Do contrário, as democracias desmentem a si mesmas.

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