terça-feira, dezembro 11, 2007

Copa de 78: detalhes de uma história obscura


Li essa no Caderno de Esporte do Terra:

Ezequiel Fernández Moores
Buenos Aires, Argentina



"Em minha própria terra, senti, eu juro, o pior de tudo... Todo mundo falando a mesma coisa: 'este traidor da pátria, por que vem aqui...'". Rodulfo Manzo nem sequer pode escapar à vergonha em San Luis de Cañete, a 140 km de Lima, sua terra natal. Confessou há alguns anos. Mas essa vergonha ameaça persegui-lo por toda a vida. Manzo foi um dos zagueiros-centrais da seleção peruana que foi goleada em 6 a 0 pela Argentina na Copa de 1978, em uma das partidas mais escandalosas da história das Copas do Mundo e cujos fantasmas foram resgatados esses dias por Fernando Rodríguez Mondragón.

O filho de Gilberto Rodríguez Orejuela e sobrinho de Miguel Rodríguez Orejuela, desertores do Cartel de Cali, revelou um dado inédito ao assegurar que o narcotráfico contribuiu com dinheiro para subornar o Peru. Saberá por acaso se o Cartel de Cali tinha algum vínculo com hierarcas da ditadura que governava a Argentina e com alguns de seus membros interessados em que o mundial servisse de plataforma a suas ambições políticas?

Esse suposto vínculo, que me foi sugerido anos atrás por fontes ligadas à própria ditadura, teria servido à goleada de 6 a 0 que permitiu à Argentina estar à frente do Brasil por melhor saldo de gols e classificar-se para a final do mundial que aconteceu em sua própria casa. Jamais houve evidências concretas. Mas os próprios jogadores reabriram as portas às suspeitas em torno do desenvolvimento e do resultado final desta partida, fundamental para que a Argentina ganhasse justamente esse Mundial, para a alegria não só de seu povo, mas também da sangrenta ditadura comandada pelo general Jorge Rafael Videla.

Ainda tenho fresca a imagem de Juan Carlos Oblitas, outro integrante daquela seleção peruana, quando o perguntei sobre essa partida na tribuna de imprensa no Estádio Azteca, no dia da abertura da Copa do México de 86. "Essa partida não foi normal, nessa partida houve coisas raras", revelou Oblitas.

Já no ano de 1982, numa investigação que realizei para a Rádio Continental, de Buenos Aires, o falecido jornalista argentino Carlos Juvenal contou que, depois do 6 a 0, encontrou-se com um grupo de jogadores peruanos no centro de Buenos Aires e que o próprio capitão da equipe, Héctor Chumpitaz, lhe confessou sobre "um dinheiro adicional", mas completou que nunca o admitiria em público.


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