quinta-feira, janeiro 15, 2009

O coração partido de Adel, o palestino

Por Giorgio Bernardelli

Através do Parent’s Circle, Rami pode conhecer a dor também de quem está no outro lado. Histórias como a do palestino Adel Misk. “Sou médico, neurologista – conta ele – e tive a sorte, rara nesta terra, de trabalhar em dois hospitais, um hospital palestino, em Ramallah e outro, israelense, na parte oeste de Jerusalém. Durante a primeira Intifada, como voluntário, curei milhares de palestinos feridos nos embates e israelenses atingidos por pedras”. Ele também conheceu, em seguida, inesperada e imensa dor.

“Era um entardecer de 1993 – continua Adel – e eu voltava para casa na parte leste de Jerusalém, quando vi um enorme grupo de pessoas próximo à minha casa. Disseram-me que havia alguém ferido. Corro para ajudar e me vejo diante de papai, Juma, com o rosto ensangüentado e a cabeça fraturada por um colono israelense. Tentei, por quarenta minutos, reanimá-lo. Inútil”. Adel recorre à polícia israelense, que captura, processa e condena o homicida a quatro anos de cadeia; dois outros, em prisão semi-aberta.

“Aquilo não me surpreendeu – comenta o médico. É normal, para o israelense que mata um palestino, quatro anos de prisão. Se fosse o contrário, o palestino teria prisão perpétua”. Nova dor, então. E novas perguntas: “Quero saber! Por que meu pai? Justo eu que socorri tanta gente? Concluí que meu pai, assim como milhares de palestinos e israelenses, morreu simplesmente porque não existe paz. Jamais teremos paz nos nossos territórios porque eles foram ocupados. E enquanto isso existir, não haverá paz.

As estatísticas provavelmente dirão que a maioria das vítimas é palestina, mas esta não é uma competição. Sabemos que nosso grupo pagou um preço altíssimo; que nossa dor é igual à deles”.

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