quinta-feira, julho 19, 2007

MORTE NO AVIÃO

Carlos Drummond de Andrade diz em seu poema MORTE NO AVIÃO:


Acordo para a morte.
Barbeio-me, visto-me, calço-me.
É meu último dia: um diacortado de nenhum pressentimento.
Tudo funciona como sempre.
Saio para a rua. Vou morrer.
Não morrerei agora. Um diainteiro se desata à minha frente.
Um dia como é longo.
Quantos passosna rua, que atravesso.
E quantas coisasno tempo, acumuladas.
Sem reparar,sigo meu caminho.
Muitas facescomprimem-se no caderno de notas.
Visito o banco. Para queesse dinheiro azul se algumas horasmais, vem a polícia retirá-lodo que foi meu peito e está aberto?
Mas não me vejo cortado e ensangüentado.
Estou limpo, claro, nítido, estival.
Não obstante caminho para a morte.
Passo nos escritórios. Nos espelhos,nas mãos que apertam, nos olhos míopes, nas bocasque sorriem ou simplesmente falam eu desfilo.
Não me despeço, de nada sei, não temo:a morte dissimulaseu bafo e sua tática.


Ouça e leia aqui o poema todo

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