Imperdível.
Por MARCOS SÁ CORRÊA, Revista Piauí
O lixo, em si, não tinha nada de mais. Era feio e repugnante como o de qualquer cidade brasileira. O tipo da coisa que o país já tem de sobra, despejando quase 100 mil toneladas por dia em vazadouros públicos, aterros sanitários, terrenos privados, barrancos, rios ou lagoas. Mas estava embalado em quase 100 contêineres, espalhados do porto de Santos à Serra Gaúcha. E, quando as portas de seus cofres se escancararam no mês passado diante das câmeras de jornais e tevês, foi como se os brasileiros nunca tivessem visto aquilo.
Não tinham mesmo. Pelo menos, como artigo importado. Abria-se à sua frente com aquela cena uma nova era da globalização. A do lixo cosmopolita. E o país foi apanhado de surpresa. Não imaginava, para começo de conversa, que o lixo inglês fosse tão parecido com o similar nacional, vindo de um continente onde se presume que há muitos anos as pessoas se treinam para separar seus resíduos desde a porta da cozinha.
Nem por isso estavam revogadas, assim de repente, todas as diferenças culturais. Poucos dias depois de descobertas as 1 600 toneladas de sucata doméstica, refugo industrial, plásticos diversos, brinquedos imprestáveis, eletrodomésticos estripados, sobras de comida, detrito hospitalar, tampas de vaso sanitário, -matéria orgânica em decomposição e vermes, havia três suspeitos presos na Inglaterra, por envolvimento com a exportação de tamanha porcaria para o Brasil. E nenhum aqui.
A Polícia Federal, a Secretaria da Receita, o Ibama e o Ministério Público farejaram pistas que devem ir longe. Mas tendem a se embaraçar nos rastros de outras investigações, ao cruzar no dia a dia com a Operação Satiagraha, a cpi da Petrobras ou a vida e obra do senador José Sarney.
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