Essa reportagem quem mandou foi meu irmão Mendes Junior. É uma reportagem publicada na revista
Veja em que aparece o Gabeira na capa.
Fico até assustado lendo a Veja publicar isso:
EconomiaO show dos númerosOs bons resultados nos indicadores de emprego, renda e consumo explicam o favoritismo de Lula
Com a divulgação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), feita pelo IBGE na semana passada, ficou patente que a vida do brasileiro melhorou nos últimos anos. A Pnad é o melhor retrato para medir as recentes mudanças do país. Ela não deixa dúvida: em 2005, houve aumento do emprego, da renda e do consumo (veja quadro). O salário médio do trabalhador, por exemplo, cresceu pela primeira vez desde 1996. Mais: comparados aos resultados do começo do governo Lula, os números da Pnad mostram que os brasileiros estão mais alfabetizados e há mais casas com luz elétrica, esgoto, coleta de lixo e água canalizada. Esses indicadores, mais do que quaisquer outros, podem explicar de maneira cristalina o porquê da folgada vantagem nas pesquisas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre seus adversários.
A preferência por Lula nas pesquisas feitas no Nordeste – onde ele tem 70% das intenções de voto – é reflexo quase direto do crescimento de 16,5% das vendas no comércio na região no último ano. É o maior porcentual de crescimento de vendas do país, segundo uma pesquisa inédita da MB Associados. Evidentemente, esse aumento do consumo tem origem nos programas assistenciais do governo, como o Bolsa Família, que atinge 11 milhões de lares brasileiros. Segundo as pesquisas, proporcionalmente o maior contingente dos eleitores do presidente Lula ainda se concentra entre os mais pobres e os menos escolarizados. Entre os que ganham menos de dois salários mínimos por mês e completaram apenas o ensino fundamental, a preferência por Lula chega a 59%, conforme mostrou o instituto Datafolha na semana passada. "A vida melhorou. Pode não ter sido o espetáculo do crescimento, mas foi um show indiscutível, principalmente para quem está na base da pirâmide", afirma o economista Marcelo Néri, da Fundação Getulio Vargas. O levantamento da MB Associados aponta que o trabalhador desfruta hoje mais crédito, tem maior poder de compra de alimentos e bens duráveis do que há quatro anos. Diz o cientista político Rogério Schmitt, da Tendências Consultoria: "É isso o que conta para o pobre. Mensalão, sanguessuga, isso não quer dizer nada. Ele está preocupado com a queda no preço do cimento e do arroz, o que de fato aconteceu. Qualquer candidato com uma bandeira dessa se beneficiaria nas urnas".
Bem, todos os indicadores são positivos, então estamos no melhor dos mundos, certo? Não. Há o que comemorar, mas também há com o que se preocupar. Boa parte desses bons resultados está lastreada no aumento dos gastos públicos. Portanto, no fim das contas, é um resultado que custa caro. E, pior, não é sustentável. "Reajustar o salário mínimo em padrões muito acima da inflação, como tem sido feito, aumenta o gasto público, principalmente na Previdência Social", diz a economista Tereza Fernandez, diretora da MB Associados. Economistas de bom senso, o mercado financeiro internacional e representantes de organismos internacionais têm alertado sobre a gastança. Na quinta-feira passada, véspera, portanto, da divulgação da Pnad, o vice-diretor do departamento de pesquisas do FMI, Charles Collyns, criticou publicamente o Brasil. Diz Collyns: "Os gastos públicos cresceram. Deveriam ser realizados de forma mais eficiente. Há ainda uma grande agenda de reformas a serem feitas".
Desde a década passada, o Brasil avançou bastante. Privatizou, diminuiu a presença do Estado na economia, começou a adquirir uma cultura de preocupação com os gastos públicos. Melhoramos muito, como o próprio resultado da Pnad comprova. Não é hora, portanto, de desviar da rota correta.
(Fonte: Revista Veja, ed. 1974, 20/09/2006, Reportagem: Daniela Pinheiro).