Buchada de bode, sarapatel, sarrabulho, panelada, galinha  pé-duro e picadinho de carne com farofa branca nos lados da rodoviária, que era  ponto de mulheres públicas, mas somente de noite e de madrugada e de quase  amanhecendo o dia, que engoliam pelo pinto homens de todos os tipos: altos,  magros, morenos, doentes, sujos, ateus, vagabundos, sérios, bêbados e infelizes,  vindos de tantos lugares, por Deus!: de Catingueira, de Capanema, de Barreiras,  de Floriano, de Buriticupu, de Araripina, de Guaraciaba do Norte, de Itaporanga,  de Uruoca, de Mombaça, de Mumbaba de Cima (e de Baixo) e de demais localidades  sabe-se lá o quê mais, em que se forjava o amor no meio da rua, num beco, com  cachorro beliscando os pés e a gataria miando no cio, encostados ao muro velho  da bodega velha que nas manhãs dos velhos sábados vendia manga-rosa,  banana-nanica, banana-prata, maracujá-suspiro, melão-cantalupo, jaca-da-bahia,  ingá-feijão, cajá-manga, abacate roxo, ameixa-preta e ameixa-vermelha, estas  últimas porque Florisvaldo, dono da pocilga que servia de encosto para o prazer  desmesurado das cunhãs da vida com moços viajantes, tinha prisão de ventre  obstinada e vivia se empanturrando da tal coisa, e também por ser a ameixa um  excelente desobstruente do fígado, depurativo do sangue e desintoxicante do  aparelho digestivo, como gostava de repetir, na medida em que permitia o  afoitamento do neto, Florisneto, merecedor de surra de chicote queimado ou de  tampa de panela de pressão nas fuças ou de cinta de couro de boi brabo nas  costelas, que volta e meia aparecia com ratos vivos na mão, outra vezes baratas,  caranguejeiras, escorpiões e cobras, anunciando que era imortal, que poderia  comê-los de uma só tacada, que com ele não havia essa história de medo, e assim  cresceu até não caber dentro de casa, e foi à rua, não muito longe, e encontrou  no muro do avô as noviças putas, as ninfetas do breu, as mercadorias com  cheirinho de mocidade e pau para todas, que acabaram lhe querendo um bem danado,  chamegoso, arrepiante e gosmento, portanto, foi um chororó quando Florisneto  cresceu ainda mais, mas de cabeça, e de formosura foi banhado, e decidiu deixar  o avô e as pequenas do beco e pegar um ônibus desses grandes, de janelas  fechadas e ares-condicionados, quem sabe, para Piracuruca, Piripiri, Buriti  Lopes, Custódia, Castanhal, Pau Cheiroso, Quixeramobim, Palmeira dos Índios ou  Oeiras, e entrou no automóvel com sua roupa do domingo, enquanto os queridos lhe  balançavam as mãos em sinais de adeus, encostados ao parapeito da área de  embarque, embora ele, coitado, não repetisse o gesto por estar atrapalhado  segurando milho cozido, milho assado, broa, peta, rolo de cana, paçoca, biscoito  recheado, sonho-paulista, um benevolente talho de queijo coalho e uma garrafa de  suco de peroba, pois a viagem era longa e não era nada fastioso o moço, ao  contrário, emborcava um prato de feijão como quem pegava uma mulher, e o mesmo  será feito tão logo chegue em Marcolândia, que, por certo, haverá um beco nas  proximidades da rodoviária para saciar o desejo dos viajantes.
Mendes Júnior
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