sexta-feira, setembro 19, 2008

Estocolmo é programa de esquimó


Marcelo Carneiro da Cunha

De Estocolmo, Suécia



Setembro, ainda verão, tecnicamente falando, e lá estou eu comprando uma manta e blusão pra enfrentar o clima suave de Estocolmo. E basta eu admitir que sou brasileiro para ouvir dos suecos sempre, sempre a mesma questão: mas o que o amigo veio fazer aqui no Pólo Norte, fundos?



Fui conhecer um pouquinho do que faz a Suécia sambar, como funciona a sociedade de iguais, como vivem os seres que devem ser os humanos mais felizes do planeta, se índice de desenvolvimento humano serve medir para alguma coisa.



Já de cara, saindo da estação central, no meio da cidade, a primeira dúvida: se esse lugar é mesmo tão bacana, então por que esse raio de arquitetura soviética aqui diante do meu nariz?
Pra quem não sabe e nem precisa saber, como todo jovem dos tempos da ditadura no Brasil eu cresci me achando um cara esquerda à beça e simpatizando com os comunistas, em especial porque eles eram contra o regime militar. Inimigo do inimigo é, no mínimo, inimigo do inimigo e isso contava, naqueles tempos. Pimba, virei simpatizante do movimento internacional que ia nos transformar em novos seres humanos, nem que precisasse acabar com todos nós pra que isso acontecesse.



Pois minha simpatia pelo movimento durou alguns anos de adolescência e uns poucos segundos diante do tal socialismo real, em Berlim Oriental, nos velhos tempos do Muro. Bastou contemplar aquela arquitetura, criada pra ser a glória do socialismo pra eu saber, para os meus ossos saberem, ali e naquele instante, que aquele negócio era horrível. E era.



Vim a ter a mesma sensação arquitetônica em Brasília, não por acaso por conta do Niemeyer, e agora, na semana passada, no centro de Estocolmo. O resto da cidade é muito bonito, cidade báltica, beleza sobre as águas, ainda mais vista desde a escotilha do hotel/barco onde fiquei hospedado, uma experiência diferente e esquisitona. O metrô é uma beleza, as 14 ilhas sobre as quais construíram a cidade formam outra beleza e as suecas, bom, o que dizer dessa beleza? Mas aquele centro!



Duas experiências marcaram minha passagem por Estocolmo e uma delas foi em uma clássica arapuca pra turistas: um bar todinho de gelo, onde eu, você e o senhor aqui ao lado podemos nos sentir esquimós por umas horas. O tal iglu, a.k.a Ice Bar Estocolmo fica em um hotel do centro, parece ter patrocínio do maior produto de exportação sueco, depois da Scania e Volvo - a vodca Absolut.


Elas não parecem mais felizes do que nós. Parecem mais loiras, isso é certo. Elas não falam uma língua que a gente entenda, e não se entusiasmam com nada, que eu tenha percebido ao menos. Elas vivem no paraíso, e isso é bom. Mas faz muito frio no paraíso e a luz é escassa, e isso é estranho.



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