quarta-feira, junho 03, 2009

Sabores de minha infância - 1

Quais os sabores de sua infância? Que sabor imediatamente lhe remete a infância?

Um amigo, que também é apreciador da boa culinária, me perguntou de onde veio o meu interesse pela culinária. Eu pensei, pensei e o disse: Vou lhe responder aos poucos, através de meu blog, com uma saga que chamarei "os sabores de minha infância". Todos os dias um pouquinho destes sabores.

Pode até parecer pretensão achar que outras pessoas se interessarão por essas minhas lembranças, mas esses sabores não ficam distantes do gosto da grande maioria dos cearenses, o que acaba sendo uma verdadeira viagem aos sabores do Ceará.

Minhas tias por parte de pai são quituteiras de mão cheia e boa comida sempre foi uma constante nas festas de um dia inteiro em sítios e chácaras da família na Serra da Meruoca, próximo a Sobral. Elas fazem do prato salgados a tortas e doces pra ninguém botar defeito.

Minha casa em Sobral ficava vizinha ao casarão de sobrado de meu avô por parte de mâe. Foi lá que aprendi o valor e o prazer da boa comida. Meus avós e pais adoravam comidas bem feitas e quando havia aniversário, se fazia lá em casa mesmo, em uma cozinha enorme, tudo o que hoje se come em aniversários: desde os salgados soa docinhos.

Minhas principais lembranças culinárias vêm mesmo deste casarão. Cresci acompanhado a melhor cozinheira que tive a oportunidade de conhecer e que trabalhou com minha avó durante mais de 30 anos: a Francisca. Francisca fazia tudo. Tudo mesmo. E é com ela que começo esta saga:



Paçoca cearense







A paçoca cearense autêntica tem um sabor marcante e característico de carne seca de qualidade e da cebola roxa. Francisca fazia ela mesmo em um pilão que havia na casa de meu avô. Lembro bem do ritmo das 'socadas'. Tem que saber bem como fazer isto, para que a carne incorpore bem a farinha, que era comprada em casa de farinha na Serra da Meruoca. A cebola roxa era de uma especie que nunca mais vi, bem pequena e de sabor mais ácido e doce e que era vendida em tranças, por pessoas que passavam de casa em casa. A carne tem de ser de qualidade. O resto é exatamente o ritmo do pilão.

Não tente fazer em casa, se não tiver um pilão. A versão de processador não chega nem aos pés da verdadeira.

Comíamos com arroz branco, feijão verde com queijo (feito por uma tia) derretendo e banana prata de nosso sítio na Serra da Meruoca.

Só comi uma igual em Itapajé (cidade que fica no meio do caminho de Fortaleza para Sobral), que hoje faz a melhor e mais tradicional paçoca do Ceará.

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