terça-feira, novembro 06, 2007

Espiral


Sinto o fogo próximo. Mas quem de mim pode correr?, senão a menor parte que há pouco anunciou o fim do dia. Bem, apenas o derradeiro suspiro do dia, a lua que chega forte, jamais, jamais, jamais – ora, Judas – o fim dos tempos, pois a saideira se confunde com a tal esperança e esta saideira é a última face da vida, e isto percebi quando sentei à primeira no Orlando, não aquele da Virginia Woolf, mas o Orlando, que hoje já não corre o perigo da obesidade, pois quis a medicina estética que ficasse o mais magro dos seres. O fogo está tão próximo que cega quem o tenta enxergar – tente não, meu amor, pois o sofrimento é irmão de pai e mãe, (sangue de sangue circulando na veia), não sabia? – corra pra bem longe daqui, mesmo que as pernas não correspondam, aqui estamos mais mortos do que no cemitério, e nele consigo comprar flores artificiais para chorar como se chora pelo morto do Ananias. De qualquer sorte, pergunto, vale a pena sofrer? Há um grito lá longe dizendo que não. Mas o som é tolo, feito o meu, de gente que nada viveu até aqui. Agora queimo vivo, mas estou de malas prontas...


Mendes Junior

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