quinta-feira, maio 29, 2008

A tortura literalmente nas ruas


O QUE PENSAM OS MORADORES DA RUA SÉRGIO PARANHOS FLEURY

LUIZ MAKLOUF CARVALHO

REVISTA PIAUÍ



O delegado Sérgio Fernando Paranhos Fleury, o torturador mais notório da ditadura militar, é nome de rua em São Carlos, no interior de São Paulo. Saindo da universidade federal, a UFSCar, a via é a primeira da zona urbana. “Ninguém precisa ser carbonário para se horrorizar com essa homenagem”, diz o professor de filosofia Bento Prado Neto, filho de Bento Prado Júnior, falecido professor emérito da universidade, cassado pelo regime no qual Fleury foi peça-chave.

Com duas quadras de asfalto gasto, a rua tem pouco mais de 200 metros. O delegado, que também criou o esquadrão da morte paulistano, nos anos 60, está em duas placas. Deve-se o tributo ao prefeito Antônio Massei, que ocupou o cargo por três vezes e baixou o decreto-lei em maio de 1980, um ano depois de Fleury morrer afogado em Ilhabela, no litoral norte paulista.

Com numeração irregular, a rua Fleury tem quinze imóveis térreos, três dos quais estão fechados, um deles com uma placa de aluguel. Soma pouco mais de vinte moradores, incluídos os universitários que alugam quitinetes em duas repúblicas. Pela lei do município, só a Câmara Municipal pode mudar o seu nome. Para tanto, é obrigatório que 75% dos moradores concordem com a troca.

Lineu Navarro, um ex-trotskista de 50 anos que militou na corrente estudantil Libelu e é formado em história, está no terceiro mandato como vereador do PT. Ele só atentou para o nome da rua no início do ano, quando o professor e escritor Deonísio da Silva publicou na internet um protesto. Navarro promete apresentar em breve um projeto de mudança. “Não será tão fácil quanto parece”, avalia. Em março, entregou uma carta, de porta em porta, com o seguinte texto: “O delegado Fleury foi um dos mais cruéis torturadores que atuaram em São Paulo durante a ditadura militar. Comandava o temido Dops e participava pessoalmente das bárbaras sessões de tortura a presos políticos. Hoje não faz sentido homenagear um torturador que simbolizou um período sombrio da história.”


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