Deu no Josias de Souza:
Aproveitando-se do recesso parlamentar, Heráclito Fortes (DEM-PI), voou para Nova York. Antes de embarcar, há quatro dias, ele tomou uma precaução.
Assinou uma procuração que dá plenos poderes a seu advogado, Délio Lins e Silva, para pedir ao STF que avoque o processo da Operação Satiagraha.
Nesta semana, munido de autorização do presidente do Supremo, Gilmar Mendes, Lins e Silva vai esquadrinhar os autos à procura de menções ao nome de seu cliente.
Se encontrar algo que se pareça com uma investigação contra o senador, o advogado voltará ao STF.
Em nome de Heráclito, pedirá que o processo migre da primeira para a última instância do Judiciário.
Congressistas desfrutam do chamado privilégio de foro. E puxam consigo, por um mecanismo que os advogados chamam de "conexão", todos os demais implicados no processo.
Pela lei, deputados e senadores só podem ser investigados com autorização do STF, a quem cabe processá-los e julgá-los. “Não disponho de alternativa”, diz Heráclito.
“Como senador, não tenho outra instância a recorrer a não ser o Supremo. Se sou atingido de algum modo, só tenho essa instância para ser julgado.”
No despacho em que autorizou Heráclito e seu advogado a acesso ao processo, o próprio presidente do STF tratou o senador como “investigado.”
Gilmar Mendes anota que Heráclito é referido “expressamente” no inquérito como “um dos possíveis envolvidos nos fatos investigados.” Daí o direito de folhear os autos.
Confirmando-se a requisição do advogado de Heráclito, o processo deve mesmo migrar para o STF. Nessa hipótese, ganharia outra dimensão.
Em vez do procurador Rodrigo de Grandis, teria de atuar no caso o procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza.
E o processo passaria das mãos do juiz federal Fausto de Sanctis, de São Paulo, para a alçada do STF, em Brasília.
“Agora, o pânico deles [PF e Ministério Público] é justamente esse. Estão insinuando que eu quero puxar o caso do Daniel Dantas para o Supremo. Como se eu tivesse opção. Ora, não posso optar coisa nenhuma. É a lei..."
"Quero ver as vísceras desse processo. Estou agindo em legítima defesa. O Supremo é a minha única instância possível. Já disse e repito: se acharem uma gravação que me comprometa, eu entrego o meu mandato...”
“...Estou na vida pública há 25 anos. Sempre tive cuidado com essas coisas. Não seria agora que eu ia entrar numa molecagem.”
Heráclito consta do inquérito da PF como elo do Opportunity e de Daniel Dantas no Congresso. “Uma sacanagem”, no dizer do senador.
Num dos grampos em que a voz de Heráclito foi captada pela PF, o senador telefonou para o celular do “amigo” Carlos Rodenburg, sócio do Opportunity.
O aparelho estava desligado. E Heráclito deixou um recado. Segundo a PF, disse que estava com o ministro Nelson Jobim (Defesa). Que estaria “preocupado com a segurança” dele.
Heráclito dá a versão dele: “O Carlos Rodenburg é muito amigo da mulher de Jobim. Eles fizeram um curso juntos, uma pós-graduação, em Nova York. São amigos. Convivem...”
“...O Rodenburg estava se separando da mulher. Fora de casa. Encontro com o casal Jobim, num coquetel, em Brasília. E eles me perguntam como está o Carlos Rodenburg...”
“...Eu disse que não sabia, que não tenho conversado com ele. Na hora, fiz uma ligação para o Rodenburg. Deu na caixa postal...”
“...Eu dexei o recado, em tom de brincadeira: ‘Olha, Carlinhos , eu estou aqui com o Jobim. Nós estamos preocupados com a sua integridade, não falei com a sua segurança...”
“...Foi uma brincadeira. Tenho a impressão de que, se tocar a fita toda do grampo, vai aparecer eu dizendo: está todo mundo aqui com medo de a alemã [a mulher de Rodenburg é descendente de alemães], que é brava, lhe cortar o saco.”
Heráclito acrescenta: “É por essas e outras que eu me sinto no direito de desconfiar de tudo o que essa gente diz.”
Heráclito é suspeito de envolvimento e ainda quer falar grosso e defender a irmã de Daniel Dantas, considerada pela PF como laranja da quadrilha toda!
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