quinta-feira, julho 10, 2008

Ainda sobre o crescimento do Nordeste

Texto de autoria de Ana Pessoa para a Revista Veja:


Loucos por rodas


Os cearenses batem recordes na comprade veículos, de carros importados a bicicletas



Foto: Tiago Santana
Fortaleza à noite: maior renda e frota de importados duplicada em dois anos



Em Fortaleza, os programas mais conhecidos são passear pela orla das praias de Iracema e do Futuro, o encontro no restaurante Colher de Pau, distante alguns quarteirões da praia, ou andar pelas lojas da Avenida Monsenhor Tabosa, que funciona como um shopping a céu aberto no centro da cidade. Em todos esses lugares, a credencial é o carro. Ser visto com um carro último tipo não é apenas um prazer. É uma mania cearense que faz a alegria dos revendedores de veículos: em apenas dois anos, a frota de carros importados do Ceará quase dobrou. Subiu de 13.700 para 26.500 unidades. A maior parte deles está em Fortaleza, que passou a ser a cidade com a maior concentração de carros importados entre as grandes capitais do país (veja quadro abaixo). "O cearense gosta do que é bom", diz o empresário Marco Borges, dono de concessionárias de automóveis e de uma pequena frota particular de importados que inclui um Ford Mondeo, um BMW 320 e um Land Rover Discovery V8. "Tenho um para cada ocasião", vangloria-se.



A presença de Fortaleza no topo do ranking das cidades que, proporcionalmente, mais compram carros importados se deve ao crescimento da economia cearense nos últimos anos. O Estado, que era um dos mais pobres do Brasil na década passada, tem hoje alguns dos melhores índices de desempenho na Região Nordeste. Nos últimos sete anos, 563 empresas foram instaladas no Ceará, com investimentos de 5,8 bilhões de reais e a criação de mais de meio milhão de empregos, diretos e indiretos. A renda per capita dos cearenses, de 2.227 reais, é ainda bem inferior à média nacional (de 5.500 reais), mas quase dobrou em dez anos. Nesse mesmo período, a renda per capita brasileira cresceu só 4%. O resultado mais visível disso pode ser observado em Fortaleza, onde uma nova e próspera classe média compra avidamente apartamentos na orla marítima e no bairro da Aldeota, lota novos shopping centers e freqüenta uma infinidade de restaurantes, bares, danceterias e lojas de franquias variadas inauguradas nos últimos anos.


O reflexo dessas mudanças ocorre também em itens de consumo associados às camadas mais pobres da população. Um exemplo são as motocicletas mais baratas. Das cinco maiores revendedoras Honda no Nordeste, três estão no Ceará. A maior de todas é a Motovel, da cidade de Sobral, que vendeu 485 motos em fevereiro, seu segundo mês de funcionamento. No Estado, 20% dos veículos licenciados possuem duas rodas. Nas cidades mais pobres do interior, o maior objeto de desejo ainda é a bicicleta. Uma pesquisa realizada pela Caloi mostrou que sete em cada dez casas cearenses possuem pelo menos uma bicicleta. No seu primeiro pagamento, os funcionários da primeira cooperativa de calçados da região de Canindé, a 130 quilômetros de Fortaleza, invadiram a loja de Francisco Erivan Justa. "Meu estoque de bicicletas acabou em um só dia", diz ele, que hoje vende 150 bicicletas por mês.
Ana Pessoa

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